Capa do Livro de Renata Santos,
coleção Grandes Nomes do Espírito Santo
Organizador Antônio de Pádua Gurgel
Domingos José Martins nasceu no sítio Caxangá, nas proximidades de Itapemirim, no estado do Espírito Santo. Hoje esse local pertence ao município de Marataízes.
Filho do capitão de milícias Joaquim José Martins e D. Joana Luíza de Santa Clara Martins, prima do marido e nascida na Bahia.
O capitão comandava o “Quartel”, quase em frente à Ilha das Andorinhas, ao sul de Marataízes, ali localizado para fiscalizar e impedir o desembarque clandestino de africanos. Depois de dar baixa da carreira militar, passou a exercer atividade comercial em casa assobradada na antiga rua das Flores.
Índice
• 1 Os primeiros anos
• 2 O revolucionário
• 3 O martírio e glória
• 4 Bibliografia
Os primeiros anos
Iniciou os estudos primários na capital do estado do Espírito Santo, completando a sua formação, posteriormente, em Portugal. Seguiu para Londres, onde se empregou na firma portuguesa Dourado Dias & Carvalho, chegando a condição de sócio do mesmo estabelecimento comercial.
O revolucionário
Na Revolução de 1817, emergiu de maneira brilhante e singular. Pelas próprias circunstâncias de sua vida, era homem dono de grande capacidade de resolução. Os que na época trataram com ele, pintam-no amigo do mandar e do gastar, ambicioso e afável. Maçom, fizera em Londres amizades nos ambientes liberais e um de seus amigos mais próximos foi o general Miranda, que lutara na guerra da Independência dos Estados Unidos, vindo da França com as tropas de Dumouriez. Miranda participara também de uma tentativa de emancipação da Colômbia em 1805, sufocada pelos espanhóis, e seu sonho somente se concretizou com Simón Bolivar, ao mesmo tempo em que ele morria no cárcere, na Espanha.
Inegavelmente, Martins foi um observador inteligente que percebeu a evolução das idéias liberais na Europa e bem compreendeu as aspirações particularistas latino-americanas. Pernambuco deveria ser para ele um capítulo glorioso de todo esse grande processo.
O martírio e glória
Derrotado, foi preso e enviado à Bahia, sendo fuzilado em 12 de junho de 1817, no Campo da Pólvora-BA, hoje conhecido como Campo dos Mártires.
Domingos José Martins foi homenageado pela Polícia Civil do Estado do Espírito Santo que o escolheu como patrono.
Bibliografia
• Revista do IHGES - Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo N° 60 - Anual (dez. 2005). Vitória
• Memórias Históricas da Revolução de Pernambuco. in: Documentos Históricos, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional do Brasil, 1995.
DOMINGOS JOSÉ MARTINS
(09.05.1781 – 12.06.1817)
Domingos José Martins também é o patrono do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e um dos precursores da Independência do Brasil. Nasceu em 9 de maio de 1781 (data presumida) no sítio Caxangá, próximo à cidade de Itapemirim (ES). Foram seus pais Joaquim José Martins, Capitão de Milícias, e Dona Joana Luiza da Santa Clara Martins. Estudou no Brasil (Vitória) e Portugal. Em Londres, empregou-se na firma portuguesa Dourado Dias & Carvalho, chegando à condição de sócio da referida firma. Ainda em Londres, fez amizade com Hipólito José da Costa, editor do “Correio Brasiliense”, e com o General Francisco Miranda, baluarte da independência da Venezuela.
Voltando ao Brasil, como gerente geral de sua firma, entusiasmou-se com a idéia de independência da ex-colônia portuguesa. Em Recife, Pernambuco, passou a ser um dos lideres do movimento separatista, que deveria se iniciar em 6 de abril de 1817. Os fatos chegaram ao conhecimento do Presidente da Província, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, que mandou prender os revoltosos. O Comandante da tropa disto incumbido, depois de parlamentar com os revoltosos, mandou recolher a tropa. Constitui-se um governo provisório, abrangendo revolucionários de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, tendo sido Domingos Martins escolhido Ministro do Comércio. Uma esquadra legalista, sob o comando de Rodrigo Lobo, bloqueou Recife e a Revolução conhecida como de 1817, chegou a termo 74 dias depois de iniciada. Domingos José Martins foi julgado e condenado à morte, tendo sido arcabuzado em Salvador, Bahia, no Campo da Pólvora, hoje Campo dos Mártires.
*Cf. BAHIENSE, Norbertino dos Santos. Domingos José Martins e a Revolução Pernambucana de 1817. 2.ª ed. Belo Horizonte: Littera Maciel, 1974
Sentença que condenou Domingos José Martins
"Vendo-se nesta cidade da Bahia o processo verbal dos reús Domingos José Martins, José Luis de Mendonça, Padre Miguel Joaquim de Almeida Castro, Manoel José Pires Caldas e Padre Bernardo Luis Ferreira Portugal; auto do corpo de delito; testemunhas sobre ele perguntadas; e interrogatórios feitos aos mesmos réus; decidiu-se uniformemente e por todos os votos que as sobreditas culpas se achavam plenamente provadas, e os réus delas incursos nos §§ 5.º e 8.º do liv 5.º das Ordenações do Reino; e mandam que se executem aos sobreditos réus as penas do § 9.º da mesma Ordenação, que diz 'e em todos esses casos, e em cada um deles, é propriamente cometido o crime de lesa-majestade e havido por traidor o que o cometer, e sendo cometedor convencido por cada um deles, será condenado que morra de morte natural cruelmente; e todos os seus bens que tiver ao tempo da condenação serão confiscados para a Coroa do Reino, posto que tenha filhos ou outros descendentes, havidos antes ou depois de haver cometido tal malefício. Entendem, contudo, os ministros da comissão militar, que, por perfeita segurança de suas consciências, devem fazer uso da permissão concedida aos tribunais, recomendando - Manoel José Pereira Caldas e Bernardo Luis Ferreira Portugal à iluminada beneficência de Sua Majestade El-Rei nosso Senhor, em atenção à decrepitude do primeiro e circunstância de ser ele natural da província do Minho - e por isso muito provável à violência, que o forçara a ceder ao partido pernambucano, partido que pelos autos consta ser o único forte e supremo e a quem convinha para seus danados fins associar - nos dias últimos de março, indivíduos da Europa. Em igual atenção à cortada que o segundo oferece, quando assegura ter feito, ainda no calor da revolução, seu testamento, em que se declara fiel vassalo d'El-Rei nosso Senhor, e a que ajuntava documentos, que talvez minorem seu crime, e lhe sejam baldados pela brevidade da sentença. - Bahia, em comissão militar, 11 de junho de 1817. - Henrique de Melo Coutinho de Vilhena, relator. - Manoel Pedro de Freitas Guimarães, major. - Manoel Gonçalves da Cunha, major. - José Antonio de Matos, tenente-coronel. - Joaquim José de Sousa Portugal, coronel. - Antonio Frutuoso de Menezes Dória, coronel. - Felisberto Caldeira Brant, brigadeiro. - Manoel Joaquim de Matos, brigadeiro de Legião. - D. Marcos, Conde dos Arcos, general".
* apud BAHIENSE, Norbertino dos Santos. Domingos José Martins e a Revolução Pernambucana de 1817. 2.ª ed. Belo Horizonte: Littera Maciel, 1974.
Monumento a Domingos José Martins na ALES
Medindo 1,68x0,56x0,56m, Estado do Epírito Santo
Soneto de autoria de Domingos José Martins
Domingos José Martins é o patrono da Cadeira 14 da Academia Espirito-Santense de Letras. De sua autoria conhece-se um soneto que, para o historiador Norbertino Bahiense, é "um hino à Pátria e à jovem amada, a quem Domingos Martins se ligou pelos laços matrimoniais, poucos dias antes de seu fuzilamento."*
Meus ternos pensamentos, que sagrados
Me fostes quase a par da Liberdade;
Em vós não tem poder a iniquidade
À Esposa voai, narrai meus fados.
Dizei-lhe, que nos transes apertados,
Ao passar desta vida à Eternidade,
Ela dalma reinava na metade
E com a pátria partia-lhe os cuidados.
A Pátria foi o meu Nume primeiro
A Esposa depois o mais querido
Objeto do desvelo verdadeiro.
E, na morte, entre ambos repartido
Será de uma o suspiro derradeiro,
O da outra há de ser final gemido.
*Cf. BAHIENSE, Norbertino dos Santos. Domingos José Martins e a Revolução Pernambucana de 1817. 2.ª ed. Belo Horizonte: Littera Maciel, 1974
DOMINGOS MARTINS, O NAMORADO DA LIBERDADE
Por jose caldas
Nunca mais esqueci a importância histórica do 12 de Junho desde quando, há 31 anos, quando eu prestava o serviço militar, meu sargento no Tiro de Guerra de Alegre, Rodolfo Faião, perguntou ao grupo de alunos o que representava a data. Um gaiato, afoito, soltou logo: “Dia dos Namorados”.
Pouco paciente com a burrice de seus recrutas, Faião espumou no canto da boca e disse: “Bando de babacas. É por isso que fazem de vocês o que bem querem. Esse é o dia do único herói de verdade que o Espírito Santo tem. Vocês são uns babacas e ignorantes”.
Faião adorava chamar-nos de babacas e, de certo modo, o éramos mesmo. Menos mal que o “bando de idiotas” que o diretor do Aristeu Aguiar, maior escola estadual da cidade, dirigiu à nossa turma de 8ª série e ficamos mesmo caras de idiotas por não dominarmos a literalidade da língua.
Naqueles tempos, anos 70, os postos-chave da sociedade eram ocupados somente por pessoas alinhadas com o regime militar. O diretor do Aristeu Aguiar devia ser dos bons aliados (não vou revelar seu nome porque ele ainda está por aí e não há lugar para revanchismos) porque era, precisamente, 1974, ano em que já se contavam muitos mortos pela represssão patrocinada pelo governo da Junta Militar e de Garrastazu Medici, sob o amparo do Ato Institucional Nº 5.
Quando o diretor chamou-nos de idiotas estava na sala um professor de Matemática, que era aluno da, então, Esaes, hoje CCA-Ufes. Tenho boa memória. Era o Márcio, um magrão, estudante de Engenharia Agronômica. Muitos dos alunos da Esaes davam aulas nas escolas do município para sobreviverem.
Quando o diretor saiu, certificando-se de que ele já estava distante, Márcio repreendeu a turma: “Se vocês soubessem o verdadeiro sentido de idiota, reagiriam. Isso é uma ofensa grave”. O alerta estava feito, mas ninguém se habilitou. Cheguei em casa e fui ao dicionário: idiota é igual a retardado mental. Naqueles tempos, Márcio arriscou sua própria pele. Se o diretor ouvisse o que ele nos falou, poderia denunciá-lo aos órgãos de repressão e Márcio poderia engrossar a lista dos desaparecidos do regime. Alegre, hoje eu sei, era um antro da direita, com muitos colaboradores diretos do regime.
Volto ao sargento Faião, que em 1964 integrou as tropas de ocupação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, na onda de represssão patrocipanda pelo regime dos generais. Faião era um idealista. Poderia até estar equivocado politicamente, mas era honesto e sincero na defesa do que acreditava.
Talvez meu sargento não compreendesse que a luta do capixaba Domingos José Martins, no início do século XIX, não guardava muita diferença de lutas posteriores dos brasileiros, principalmente as lutas por liberdades no século XX. Nunca haverei de me esquecer do que aprendi nos bancos escolares, principalmente, que Domingos Martins morreu fuzilado e teve cortada pelas balas sua última frase: “Morro pela Liberd….”
Domingos Martins namorou a liberdade, num tempo em que brasileiros ilustres e lúcidos enfrentavam o regime colonial. Ele morreu em 1817 ao liderar a Revolução Pernambucana, o último movimento nativista pela independência em relação a Portugal, finalmente, obtida cinco anos depois de seu fuzilamento no Campo da Pólvora, na Bahia – hoje, Campo dos Mártires, em Salvador.
O sítio Caxangá, onde nasceu Domingos José Martins, hoje pertence ao município de Marataízes, emancipado de Itapemirim. Por ironia, Domingos foi fuzilado na Bahia, terra de sua mãe, dona Joana Luíza de Santa Clara, que se casou com um primo, o capitão de milícia Joaquim José Martins.
Domingos fez os estudos primários em Vitória, mas completou sua formação, posteriormente, em Portugal. De lá, foi para Londres, onde fez muitas amizades nos ambientes liberais, facilitado pela sua condição de maçom. Era um observador arguto do seu ambiente social e político, e homem de grande capacidade de decisão.
Um de seus amigos mais próximos em Londres foi o general Miranda, que lutou na Guerra da Independência dos Estados Unidos. Em 1805, Miranda participou de uma tentativa de libertação da Colômbia, sufocada pelos espanhóis. Morreu no cárcere na Espanha, enquanto Simón Bolivar liderava a independência da América espanhola.
Domingos Martins era comerciante dos bons e político como poucos. Patriota por excelência. Os patriotas do século XIX eram os pais dos nacionalistas do século XX. O que não sei dizer, sinceramente, é qual a definição dar para a descendência deles no século XXI, quando o que parece faltar, na verdade, é uma “causa por que lutar”.
Estudar os movimentos sociais e políticos de Pernambuco – a Restauração em 1654, contra o domínio holandês; Guerra dos Mascates, entre 1710 e 1712; a Revolução Pernambucana, efêmera, mas contundente, em 1817; a Confederação do Equador, em 1824; e a Revolta Praieira, em 1848 – ajuda-nos a compreender o sonho de liberdade imanente em cada ser humano. Jacques Rousseau já dizia que “a liberdade de cada homem é o primeiro instrumento de sua conservação”.
Domingos José Martins, esse bravo capixaba, que a Polícia Militar do Espírito Santo adotou como seu patrono, é um baluarte da luta por essa liberdade. Se o apelo do capitalismo de consumo dos nossos dias faz-nos esquecer os grandes vultos de nossa história, permitam-me lembrar-vos que em 12 de junho de 1817 morria o namorado-mor da liberdade em nosso País. E era um capixaba.
José Caldas da Costa é jornalista, licenciado em Geografia, autor de “Caparaó – a primeira guerrilha contra a ditadura”. É colunista nos finais de semana em www.seculodiario.com.br
Os irmãos Martins
Fonte: História do Espírito Santo - Uma abordagem didática e atualizada 1535-2002
Autor: José P. Schayder
Capixabas estiveram envolvidos em rebeliões ocorridas em Pernambuco, no primeiro quartel do século XIX. Todos eram membros da família Martins. O mais conhecido, certamente, é Domingos José que, homenageado, deu nome a uma cidade das terras altas do Espírito Santo, Domingos Martins.
Os irmãos Martins participaram da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, em 1824. O primeiro movimento teve caráter separatista e, ao lado da Inconfidência Mineira, Fluminense e Baiana, foi precursor da independência do Brasil.
A segunda rebelião lutou contra o autoritarismo de D. Pedro I, expresso da Constituição por ele outorgada. Ambos foram influenciados pelos ideais dos filósofos iluministas e pela "santíssima trindade" da revolução francesa: "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".
O historiador José Teixeira de Oliveira reuniu alguns dados biográficos do clã Martins:
"Domingos José Martins nasceu em Cachanga, hoje Itapemirim, onde seu pai servia como porta-bandeira. (...) Mandado à Bahia e Lisboa aprimorou-se nos estudos, passou, depois à Inglaterra, onde se empregou em uma casa comercial, da qual, mais tarde, se tornou sócio. Regressando ao Brasil, fixou-se no Recife, entregando-se, logo, a uma intensa propaganda dos ideais de liberdade, que sonhava ver praticados em sua pátria. Quando explodiu a Revolução de 1817, Domingos José Martins foi eleito representante do comércio na junta governativa revolucionária - escolha que fala eloquentemente do prestígio que desfrutava na sociedade pernambucana. Derrotados os rebeldes, Domingos José Martins foi preso e conduzido para a Cidade do Salvador onde, aos doze de junho de 1817, morreu arcabuzado (...). Teve sete irmãos - André, Francisco, Luíza, Maria, Joaquim, Ana e Vitória. O primeiro fez carreira militar e alcançou o posto de tenente-coronel. O segundo dedicou-se ao sacerdócio. Ambos lutaram ao lado do irmão em 1817, sendo que Francisco José Martins foi companheiro de frei Caneca na Confederação do Equador (...)"
Anticolonialistas e antiabsolutistas, os Martins faziam parte de uma elite esclarecida e consciente de seus interesse de classe. Eram membros de uma minoria privilegiada, se comparados à grande massa, composta de pobres analfabetos e de escravos.
De qualquer forma, na conjuntura política daquele momento específico, os Martins foram os porta-vozes dos grupos marginais. Mesmo que a palavra liberdade significasse coisas diferentes para cada um deles.
Domingos José Martins nasceu no sítio Caxangá, nas proximidades de Itapemirim Espírito Santo. Hoje esse local pertence ao município de Marataízes, Espírito Santo.
Filho do capitão de milícias Joaquim José Martins e D. Joana Luíza de Santa Clara Martins, prima do marido e nascida na Bahia.
O capitão comandava o “Quartel”, quase em frente à Ilha das Andorinhas, ao sul de Marataízes, ali localizado para fiscalizar e impedir o desembarque clandestino de africanos. Depois de dar baixa da carreira militar, passou a exercer atividade comercial em casa assobradada na antiga rua das Flores.
Mas iniciou os estudos primários na Capital do Estado Espírito Santo, completando sua formação, posteriormente, em Portugal, seguindo para Londres, onde se empregou na firma portuguesa Dourado Dias & Carvalho, chegando a condição de sócio do mesmo estabelecimento comercial.
Na Revolução de 1817, emergiu de maneira brilhante e singular. Pelas próprias circunstâncias de sua vida, era homem dono de grande capacidade de resolução. Os que na época trataram com ele, pintam-no amigo do mandar e do gastar, ambicioso e afável. Maçom, fizera em Londres amizades nos ambientes liberais e um de seus amigos mais próximos foi o general Miranda, que lutara na guerra da Independência dos Estados Unidos, vindo da França com as tropas de Dumouriez. Miranda participara também de uma tentativa de emancipação da Colômbia em 1805, sufocada pelos espanhóis, e seu sonho somente se concretizou com Simón Bolivar, ao mesmo tempo em que ele morria no cárcere, na Espanha.
Inegavelmente, Martins foi um observador inteligente que percebe a evolução das idéias liberais na Europa e bem compreendeu as aspirações particularistas latino-americanas. Pernambuco deveria ser para ele um capítulo glorioso de todo esse grande processo.
Derrotado foi preso e enviado a Bahia, sendo Fuzilado em 12 de junho de1817, no Campo da Pólvora-BA, hoje conhecido como Campos dos Mártires.
Revolução Pernambucana: o papel da ideologia de Domingos José Martins e sua contribuição política
Por Rita Castro
SEVERINA RITA SILVA ALVES CASTRO
JULIO CÉSAR DO REGO CAVALCANTI JUNIOR
HILDINETE BRONZIADO BATISTA FERREIRA
Orientador: ARLINDO MORAIS PINHO FILHO
Introdução: Segundo Rousseau em seu livro, Do Contrato Social, “a liberdade de cada homem é o primeiro instrumento de sua conservação”. Em seu outro livro, A origem da desigualdade entre os homens, Rousseau “concebe na espécie humana duas formas de desigualdade: Uma, que chama de natural e a outra, que pode ser chamada de desigualdade moral e política, esta consiste nos diferentes privilégios, como ser mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros. Sendo assim o desejo do homem de ser igual ou diferente é tido como origem primária das revoluções ou seja a liberdade é inerente ao homem e foi na busca desta, “liberdade tão sonhada”, que Domingos José Martins tinha o desejo que a população pernambucana fosse livre do jugo Português. E assim promoveu aquela “gloriosa revolução” como diz alguns historiadores. Travando então uma luta contra os desmandos portugueses de 1817. A abordagem do tema vem trazer para o leitor uma nova visão sobre um dos líderes desta Revolução.
Contemplando assim sua idéia de liberdade para os trópicos, especificamente para Pernambuco. O texto vem corroborar na afirmação de que Domingos foi um grande influenciador e disseminador da idéia de liberdade para a população de sua época. Martins, comerciante, maçom e com informações sobre idéias iluministas que trouxera da Europa, encontrava em Pernambuco um clima fértil para disseminação das idéias liberais. Pernambuco na época era governado por um governo frágil politicamente e desacreditado pelo povo. Toda essa postura existente ajudou para disseminação das ideais defendidas por Martins que promoveu o desenrolar da revolução. Como bom liberal e seguidor de Rousseau defendia a liberdade de comercio para os trópicos , coisa inexistente na capitânia e contando então com a ajuda de clérigos, que também comungava da mesma corrente. O contexto histórico em que se encontrava o Brasil não era dos melhores para a população do norte (Bahia, Pernambuco e Maranhão). Pernambuco no início do século XIX encontrava-se em grandes dificuldades econômicas, sociais e políticas. Domingos Martins descontente com o sistema adotado pelo Rei D. João VI (impostos altíssimos) começou uma investida contra o poder de Portugal e seus desmandos para com a população brasileira. Conhecedor dos ideais iluministas, devido parte de sua vida que passou na Europa (Inglaterra) como grande comerciante que era. Então ele propiciou aos seus compatriotas toda uma formação de não aceitabilidade do jugo Português, formando um contingente de pessoas dispostas a lutarem pela liberdade de expressão, política, comercial entre outras. Casado de pouco e mesmo em lua de mel deixou sua esposa “chorosa” para atuar em busca do seu ideal, mesmo que esse lhe trouxesse a morte. Segundo escritos Martins era um homem que “andava de braços com todos os cabras, mulatos e crioulos”, nessa citação (Quintas, Amaro) podemos perceber o quanto ele tinha influência em todos os níveis sociais e também poder político, pois arregimentou muitos militares para a causa. Mesmo quando Domingos estava na Europa já pensava em fomentar as idéias de liberdade para ajudar seu povo, concretizando-se ao chegar em Pernambuco. Onde ele tomou parte de uma revolução que nos trouxe uma república de fato, pequena porém intensa no seu contexto político.
Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, qualitativa com documentos antigos na qual utilizaremos a paleografia como base para entendermos os escritos. E ainda os acervos bibliográficos que possam favorecer uma melhor compreensão e interpretação de dados.
Resultados e discussão: Na percepção de pesquisadores como Amaro Quintas, Manuel Correia de Andrade, Evaldo Cabral de Mello, Gilberto Freyre e tantos outros, o assunto Revolução de 1817 é sem dúvida concreto no que diz respeito a discussão do fato. Comprovando assim que a Revolução Pernambucana de 1817 foi um marco para a colônia mudando conceitos e idéias de um novo grupo pernambucano, os patriotas, assim era conhecido os líderes do movimento por seus companheiros. Um termo inspirado no nacionalismo, que não faltava nos líderes de 1817. Depois da revolução esses líderes assumem o comando de Pernambuco formando um governo, em modelos diferentes do que existia na colônia, um governo formado com representações de todos os seguimentos sociais e políticos. Temos neste seguimento um papel importantíssimo de Domingos José Martins, que defendia uma idéia de liberdade para os trópicos especificamente para Pernambuco. Os desmandos do governo português tinha um peso e uma crueldade tamanha em nível de impostos, recaindo sobre determinados grupos sociais(ricos e pobres). Martins trazia na sua bagagem idealista um desejo de libertar o povo pernambucano deste contexto. Suas idéias rousseuniana no momento foram de suma importânçia, despertando assim em outras pessoas a vontade de dar um basta na situação vigente. Governava Pernambuco nesta época (Caetano Pinto de Miranda Montenegro) um governo frágil politicamente, dando assim, espaço para disseminação de tais idéias. Martins concentrava em sua residência grupos para debates no intuito de formular uma revolução a qual foi antecipada por motivos diversos (traição, conspiração). Mas mesmo assim a idéia lançada por ele para tal fato nos trouxe reconhecimento até hoje, provando que aquele ideal político foi de grande relevância para Pernambuco. Em seu livro Rubro Veio, Evaldo Cabral de Mello conceitua que depois dos movimentos existentes em Pernambuco (a Restauração em 1654 contra o domínio Holandês, Guerra dos Mascates entre 1710 e 1712, a Revolução Pernambucana 1817, Confederação do Equador em 1824 e Revolta Praieira em 1848) “os pernambucanos se orgulhariam de sua participação ativa na história do Brasil, sempre mantendo altos ideais de liberdade”.Enfim estes movimentos foram ativadores do imaginário ativista brasileiro.
Considerações finais: Percebemos após a pesquisa que, Domingos tinha uma influência em todos os seguimentos sociais. Apesar da Revolução ter um contexto, historicamente breve, ela foi de suma importância tanto para a sociedade da época quanto para a atual. A capitânia ganhou um otimismo político e idealista, que até hoje percebemos na sociedade pernambucana. Podemos ver isto numa frase bem contextualizada que diz, “orgulho de ser nordestino”, se esta for entendida a luz dos fatos originais, ou seja, para saber o significado da mesma, temos que buscar nos movimentos sociais pernambucano as informações verdadeiras.
Palavras-chave: Revolução. Liberdade. Ideais.
Fontes
BERNARDES, Denis. O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822. São Paulo: Hucitec: Fapesp; Recife: UFPE, 2006. (Estudos Históricos; 65).
Bittencourt, Gabriel. Domingos Martins. Instituto Historico Geografico do Espirito Santo. revista publicada de nº 60. 2005.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. 2° ed., São Paulo: Cia das Letras.1990.
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial. 3° ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
COSTA, Pereira da. Anais Pernambucano. Livro 8 p.358.
COSTA, Emília Viotti da. Introdução ao estudo da emancipação política. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Brasil em perspectiva. 10° ed., São Paulo: Difel, 1978. (Col. Corpo e Alma do Brasil, 23).
ECO, Humberto. Como se faz uma tese. 20º ed., São Paulo: Perspectiva. 2006.
FERRAZ, Socorro.Liberais& Liberais. Recife: Ed. Universitária da UFPE.1996.
LEITE, Clacyra Lazzari. Pernambuco 1817. Recife: Massangana.s/d.
MARTINS, Pe. Joaquim Dias. Os Mártires Pernambucanos. Recife: Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, s/d. (Primeira edição, Pernambuco: Typ. De F. C. de Lemos e Silva, 1853). (O manuscrito é de 1823).
OLIVEIRA, Paulo Santos. A Noiva da Revolução. Recife: Comunigraf. 2006.
QUINTAS, Amaro. A Revolução de 1817. 2° ed., Rio de Janeiro/Recife: José Olympio/FUNDARPE, 1985.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. A origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martin Claret.2006.
SANTOS,Renata. Coleção grandes Nomes do Espirito Santo/Domingos Martins. Vitória: Texto Comunicação e cultura.2007.
Nenhum comentário:
Postar um comentário